NOTICIAS DO MERCADO IMOBILIARIO



IMÓVEIS

Nem sempre é mau negócio

O que vale a pena comprar e o que
é "mico" em dez capitais, segundo os
campeões de venda de cada cidade

Por Roseli Loturco

Em períodos de incerteza econômica como o atual, investir a poupança em um imóvel é saída muito comum. Troca-se a rentabilidade pela segurança. Uma pesquisa inédita obtida por VEJA mostra que, além da segurança, a compra de um imóvel pode resultar, no longo prazo, em um investimento atraente. "A idéia de que comprar um imóvel significa perder dinheiro não é correta. Quando se obedece a alguns pontos, o imóvel pode ser ao mesmo tempo um investimento seguro e rentável", diz Mauro Halfeld, professor de finanças da Universidade Federal do Paraná e que fez pós-doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Com vinte anos de experiência no mercado financeiro nacional, Halfeld afirma que a regra de ouro para ganhar dinheiro com imóveis é investir em vagas de garagem, galpões, terrenos que possam servir de estacionamento – enfim, imóveis que comecem a render um aluguel imediatamente, ao mesmo tempo em que se valorizam.

"Já superamos o período que compreende os oito anos do Plano Real, quando a compra de imóveis foi considerada um negócio de retorno inferior ao de outras formas de investimento no Brasil", avalia Halfeld. Em termos de rentabilidade real, a renda fixa poderá até ser, nesta década, um investimento "perdedor" se comparada aos possíveis ganhos com imóveis. "Os imóveis vão recuperar sua trajetória de ganhos acima da renda fixa", diz Halfeld.

Para o Secovi, o sindicato da indústria imobiliária do Estado de São Paulo, houve neste ano um aumento médio de cerca de 30% no valor dos imóveis de alto padrão na capital paulista. Em diversas capitais o aumento da procura de imóveis acompanhou o índice paulistano. Cada cidade tem as próprias leis de mercado, e o que é bom em uma pode ser mico em outra.



Rio de Janeiro


Oscar Cabral

ESPAÇO É DINHEIRO
"Onde não existem mais terrenos a ser ocupados, a valorização tende a crescer", diz Cavalcanti

Onde investir: imóveis na Zona Sul são as apostas ideais. A Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes – duas áreas de expansão da cidade – oferecem a possibilidade de atualização do investimento em imóveis.

As razões: em bairros como Jardim Botânico, Ipanema, Leblon, Lagoa e Gávea, há pouquíssimos espaços para novos empreendimentos e, portanto, os que já existem tendem a se valorizar sempre.

O que preferir: apartamentos de dois quartos em prédios residenciais com serviços são os mais indicados para quem quer investir sua poupança. Eles custam relativamente pouco e têm alta aceitação no mercado, o que garante liquidez quase imediata.

O mico: imóveis comerciais de grande porte, pois o número de empresas em busca de espaço no Rio de Janeiro vem caindo a cada ano.

Fonte: Marcus Cavalcanti, 22 anos de profissão, é um dos principais nomes do mercado imobiliário carioca e já vendeu mais de 5 000 unidades. A mais cara foi uma cobertura no Leblon, por 5 milhões de dólares.



São Paulo

Onde investir: imóveis residenciais nas regiões dos Jardins, Itaim, Vila Nova Conceição e na Avenida Quarto Centenário (próxima ao Ibirapuera). Já os pontos comerciais mais cobiçados são os andares altos de prédios localizados nas avenidas Faria Lima e Juscelino Kubitschek.

As razões: é histórica a valorização de imóveis residenciais nesses bairros. No caso dos imóveis comerciais, hoje ficou extremamente barato comprar imóveis dessa natureza, em dólar, situados nessas regiões consideradas nobres.

O que preferir: no segmento comercial, lajes ou escritórios a partir de 200 metros quadrados. No residencial: na Quarto Centenário, preferir os condomínios de casas de alto padrão (cujo valor de mercado gire entre 1,5 milhão e 2 milhões de reais). No Itaim e nos Jardins, escolha os apartamentos com dois ou três dormitórios e, na Vila Nova Conceição, os apartamentos de alto padrão.

O mico: no caso residencial, evite imóveis que não tenham boa localização – por exemplo, de frente ou vizinhos a favelas, próximos a viadutos ou onde haja muito barulho, perto de bares e boates. No caso comercial, fuja dos imóveis que já perderam valorização, por causa de localização pouco privilegiada, e que se encontrem deteriorados. Ou, ainda, os que estejam pouco ocupados, apesar de possuírem tempo de uso.

Fonte: Tomás Sales, diretor de novos negócios da Lopes Consultoria de Imóveis, líder no concorrido mercado paulista. Vende, em média, 1 000 imóveis novos por mês e deve aumentar sua receita em 40% neste ano, para 1,4 bilhão de reais. Conta com mais de 200 pontos-de-venda em toda a Grande São Paulo, 350 000 nomes em seu cadastro de ofertas e recebe cerca de 18 000 pessoas por mês.





Porto Alegre

Liane Neves

VIA RÁPIDA
"Com acesso melhor, em breve Nonoai vai se valorizar", diz Jaeger


Onde investir: estão surgindo novos empreendimentos de alto padrão em bairros já valorizados, como Bela Vista, Moinhos de Vento e Petrópolis. Em outras regiões, como Nonoai, recomendo apartamentos de dois dormitórios com valor até 70 000 reais.

As razões: em Nonoai e em outros bairros servidos pela Terceira Perimetral, a construção da via rápida deve melhorar muito o trânsito e o acesso, com reflexos positivos na valorização. Higienópolis, Auxiliadora, Santana e Bonfim também são regiões com valorização em alta.

O que preferir: apartamentos de dois ou três dormitórios.

O mico: a procura por casas fora dos condomínios horizontais caiu muito por causa da falta de segurança. No momento, casa é mau negócio.

Fonte: Reny Renato Jaeger, 62 anos, proprietário da Interplan Comércio de Imóveis, imobiliária que oferece 1 500 imóveis usados e 146 edifícios novos na cidade. A venda média é de oitenta imóveis por mês.



Curitiba


Jader da Rocha

CASAIS E SOLTEIROS
Em Curitiba", diz Cóssio, "é grande a procura por lofts e flats, imóveis que atraem casais jovens, solteiros e descasados"

Onde investir: o Batel é uma região valorizada por lojas e shoppings de alto padrão. Champagnat e o Cabral vão seguir pelo mesmo caminho.

As razões: a partir de 80 000 reais é possível comprar um apartamento em alguns desses bairros. Com menos do que isso, pode-se fazer um bom investimento em um apartamento de 150 metros quadrados em bairros com boa localização, como Água Verde e Jardim Botânico.

O que preferir: lofts e flats terão procura por um bom tempo. Eles atraem casais jovens e sem filhos, solteiros e descasados. Prefira os edifícios altos, com grandes terrenos.

O mico: conjuntos comerciais com área de até 50 metros quadrados, próximos ao centro e que não têm vagas de garagem. Imóveis residenciais acima de 300 metros quadrados também não têm liquidez.

Fonte: Luiz Antonio Cóssio, 47 anos, proprietário da Imobiliária Thá, trabalha com 1 000 imóveis, entre novos e usados, e vende cerca de setenta unidades por mês.



Fortaleza

Onde investir: imóveis em regiões nobres da cidade, como Aldeota e a vizinhança do Shopping Center Iguatemi, e nas áreas em expansão, como Água Fria.

As razões: os imóveis localizados em regiões residenciais com serviços são os mais fáceis de alugar e quem investe em zonas de expansão pode lucrar no futuro, quando a área estiver mais valorizada.

O que preferir: nas áreas já consolidadas, apartamentos de dois dormitórios. Os antigos de três dormitórios diminuíram para dois porque as cidades cresceram, as famílias são menores e o poder aquisitivo, idem. Nas regiões em expansão, o melhor é comprar terrenos. Construir para vender no futuro é ruim porque a edificação fica depreciada.

O mico: casas e apartamentos de veraneio. Com o boom de hotéis e pousadas de qualidade nas praias, tais imóveis se tornaram dispendiosos e desnecessários. Nos últimos cinco anos, a desvalorização em dólar foi de 30%.

Fonte: Sérgio Porto, dono da Sérgio Porto Imóveis, está no mercado imobiliário há vinte anos e comercializa 120 unidades de luxo por ano em Fortaleza.



Recife

Onde investir: nas áreas em expansão da cidade, como os bairros de Torre e Piedade. O bairro de Boa Viagem tem os maiores índices de venda de imóveis, mas a região apresenta sinais de saturação e tende a decair.

As razões: os preços nesses locais são cerca de 30% mais baixos que nas regiões nobres. Em aproximadamente cinco anos estarão mais valorizados. Piedade é a Boa Viagem do futuro.

O que preferir: apartamentos de até 60 000 reais em áreas residenciais com serviços. Para quem vai alugar o imóvel, o retorno é entre 1% e 1,3% do valor por mês. No caso dos imóveis de alto luxo, esse número varia entre 0,7% e 0,8%. Além disso, é mais difícil encontrar locatários para apartamentos caros.

O mico: lojas e terrenos em áreas comerciais já saturadas, a exemplo da Avenida Domingos Ferreira, em Boa Viagem. Nessa região, a concorrência do Shopping Center Recife atrapalha o comércio das lojas e poucos são os que querem alugar por ali.

Fonte: Antenor Lino, presidente do Sindicato da Habitação de Pernambuco. É um dos maiores empresários do setor imobiliário do Recife. Está no mercado desde 1982 e vende cerca de oitenta unidades por ano.



Salvador


Fernando Vivas
MODISMO DÁ PREJUÍZO
"Muita gente comprou quarto-e-sala em Salvador pensando ser flat", alerta Agra

Onde investir: no caso de residência, o bairro da Pituba é uma excelente opção; para o comércio, uma boa dica são os imóveis localizados na Avenida Tancredo Neves.

As razões: a Pituba concentra um grande número de serviços, como bancos, supermercados, escolas e opções de lazer. Por isso, é uma região muito procurada e tende a ser assim por muito tempo. A Avenida Tancredo Neves está consolidada como o pólo de negócios de Salvador.

O que preferir: apartamentos de quarto e sala de até 80 000 reais têm alta aceitação no mercado. Outra boa opção são os terrenos em locais que apresentem potencial concreto de crescimento. Compre mas não construa, por enquanto.

O mico: comprar por modismo. Foi o que aconteceu em Salvador há vinte anos, quando houve um estouro na comercialização de flats. Certas de que o investimento tinha retorno garantido, muitas pessoas compraram quartos-e-salas vendidos como flats. Quem caiu na armadilha adquiriu o imóvel pelo preço de um flat e depois teve de vendê-lo como um simples quarto-e-sala, com perda média de 30%.

Fonte: Sílvio Agra, 49 anos, atua há trinta no mercado imobiliário de Salvador e comercializa cerca de 500 unidades por ano na imobiliária que leva seu nome.



Belo Horizonte

Onde investir: apartamentos residenciais em prédios de luxo, em bairros nobres e bem localizados, como Lourdes, Funcionários e Mangabeiras.

As razões: são imóveis de alto gabarito, com valorização crescente e liquidez garantida.

O que preferir: apartamentos de quatro ou cinco dormitórios de alto padrão.

O mico: flats ou salas comerciais são um mico para quem espera alugar.

Fonte: o empresário Rubem Vasconcelos, 51 anos, da Rubem Vasconcelos Imóveis, é um dos campeões de venda de imóveis em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Em trinta anos de atuação nesses mercados, já vendeu cerca de 60 000
imóveis – uma média de 2 000 por ano.



Florianópolis

Onde investir: imóveis na região central da cidade, em especial na Beira-Mar Norte. A procura por imóveis nessa área é crescente e tem muita liquidez. Outra boa região para investir é nas proximidades do Bairro Trindade.

As razões: Florianópolis é uma cidade em que o centro não é degradado e onde se podem conseguir bons apartamentos por bons preços. Um apartamento de três quartos no centro, por exemplo, pode custar em torno de 160 000 reais. Imóveis em Trindade são um bom investimento devido à proximidade da Universidade Federal de Santa Catarina. Há forte procura de imóveis para alugar nessa região, principalmente devido ao grande número de estudantes universitários que querem morar ali. Esses imóveis têm boa liquidez e estão em franca valorização.

O que preferir: apartamentos de três ou quatro dormitórios no centro e na Avenida Beira-Mar ou apartamentos de dois dormitórios em Trindade. São imóveis que, colocados para alugar, têm procura garantida. Além disso, assim como os imóveis em geral em Florianópolis, estão em franca valorização. Nos últimos dois anos, os imóveis da capital de Santa Catarina valorizaram-se cerca de 20%.

O mico: salas comerciais em regiões não centrais são um mico, têm pouquíssima procura. A tendência, nos bairros mais afastados do centro, é as empresas usarem casas para montar seus escritórios. Só existe demanda para salas comerciais no centro da cidade.

Fonte: Gilberto Vidal Guerreiro, dezessete anos de profissão, dono de uma das principais imobiliárias de Florianópolis, já vendeu mais de 3 000 imóveis.



Brasília

Onde investir: apartamentos pequenos e salas comerciais no Plano Piloto são considerados, no momento, o melhor investimento em Brasília.

As razões: Brasília é uma cidade planejada, e as áreas nobres para construção no Plano Piloto estão praticamente esgotadas. Há pouca oferta e grande procura, o que gera valorização a curto prazo.

O que preferir: salas em edifícios próximos à Esplanada dos Ministérios e apartamentos de dois quartos nas asas Sul e Norte e no Setor Sudoeste.

O mico: casas nos lagos Sul e Norte. O alto custo de manutenção e questões de segurança têm provocado instabilidade nos preços e dificuldade de liquidez.

Fonte: Marcelo Carvalho de Oliveira, dezoito anos de mercado, 37 000 imóveis comercializados. Vendeu há um mês um apartamento na Asa Norte por 2,1 milhões de reais.